Pouco antes de ser bloqueada sob acusação de ser uma pirâmide
financeira, a BBom transferiu R$ 31,5 milhões, possivelmente obtidos de
quem investiu dinheiro no negócio, para a conta de uma empresária de
Campinas (SP), numa transação com características de lavagem de
dinheiro.
Os dados constam de uma decisão do juiz substituto da 6ª Vara Federal
Criminal de São Paulo, Marcelo Costenaro Cavali, especializada em
crimes financeiros, onde os responsáveis pela BBom respondem a processo.
A quantia seria suficiente para pagar 10 mil adesões à BBom no pacote
mais caro, de R$ 3 mil. É equivalente também a um quarto dos R$ 130
milhões que o presidente da BBom, João Francisco de Paulo, disse em
novembro dever aos associados que não conseguiram recuperar seus
investimentos.
A Justiça determinou o bloqueio dos R$ 31,5 milhões, e efetivamente
congelou pouco mais da metade do valor (R$ 17,3 milhões). A empresária
será investigada por lavagem de dinheiro, assim como já ocorre com a
BBom.
Procurados, os advogados da BBom – cujos representantes sempre
negaram irregularidades – e da empresária não retornaram os contatos. Em
novembro, a BBom conseguiu a liberação parcial e provisória de suas
atividades.
Negócio foi fechado em menos de 1 mês
As contas da Embrasystem – proprietária da marca BBom – foram
bloqueadas provisoriamente em 10 de julho, por decisão da Justiça
Federal em Goiás. Quinze dias antes, em 25 de junho, a empresária
Juliana Costabile Rodrigues recebeu R$ 31,5 milhões da empresa, segundo a
decisão da Justiça Federal em São Paulo.
Supostamente, o dinheiro serviria para a Embrasystem comprar parte de
quatro companhias detidas pela família Costabile – Ecadil, Extrato
Flora, Indiana e Life’s.
No dia seguinte ao recebimento do dinheiro, Juliana transferiu R$
12,6 milhões para a conta da Extrato Flora e R$ 2 milhões para a conta
de duas parentes. Em agosto, a Justiça conseguiu bloquear R$ 17,3
milhões, ou 55% dos R$ 31,5 milhões que saíram das contas da
Embrasystem.
Para o juiz substituto da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo,
Marcelo Costenaro Cavali, o contrato firmado entre a Embrasystem e a
família Costabile é uma “aberração jurídica”. O negócio foi fechado em
menos de um mês – João Francisco visitou a Ecadil em 4 de junho, e 25
dias depois fez odepósito de R$ 31,5 milhões –, depois de uma simples
troca de e-mails. Juliana nem “sequer assinou o contrato”, que foi
firmado por um parente seu, escreveu o juiz.
“Os elementos constantes dos autos demonstram operações que (…) são
muito características de lavagem de dinheiro”, escreveu Cavali.
Juiz determina abertura de inquérito contra empresas
O juiz escreveu que as negociações feitas pela BBom e
a família Costabile são nulas mesmo que se conclua que esses últimos
tenham agido de boa fé, e que eventuais danos sofridos por eles devem
ser exigidos diretamente da Embrasystem “e não pela apropriação direta
de valores que pertencem a todos os ‘investidores’ aparentemente
logrados pelo ‘Sistema BBom’”.
A Polícia Federal foi notificada pela Justiça Federal para que
abrisse inquéritos para apurar o crime de lavagem de dinheiro por parte
dos envolvidos na transação.
Além dessa transação, ao menos outras dez empresas e pessoas físicas
são suspeitas de terem recebido dinheiro indevidamente do grupo BBom,
segundo um processo que tramita na 4ª Vara Federal em Goiás, onde os
donos do negócio também respondem a um processo.
Uma das investigadas é a M-Cor Holding. Como foi mostrado, essa
empresa foi fundada por João Francisco, e passou a ser administrada
indiretamente por uma ex-funcionária da Embrasystem. A atual
proprietária é uma offshore situada nas Ilhas Virgens Britânicas, um dos
paraísos fiscais mais sigilosos do mundo.
Na ocasião, o advogado da M-Cor e da ex-funcionária defendeu a
legalidade dos negócios com a Embrasystem, e negou que a relação tenha
sido usada para transferir recursos dessa empresa para o exterior.
Fonte:Terra
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